quarta-feira, 4 de agosto de 2010



DEFINIÇÃO DE SAUDADE

Emocionante como uma criança pode definir um sentimento que muitos ; adultos não sabem nem mesmo o que é. t; Artigo do Dr. Rogério Brandão ; Médico oncologista clínico; RC Recife Boa Vista D4500 &gt> Médico cancerologista, já calejado com longos 29 anos de atuação; profissional, com toda vivência e experiência que o exercício da t; medicina nos traz, posso afirmar que cresci e me modifiquei com os > dramas vivenciados pelos meus pacientes.; Dizem que a dor é quem ensina a geme. ; Não conhecemos nossa verdadeira dimensão, até que, pegos pela ; adversidade, descobrimos que somos capazes de ir muito mais além.; Descobrimos uma força mágica que nos ergue, nos anima, e não raro, nos ; descobrimos confortando aqueles que vieram para nos confortar.t; Um dia, um anjo passou por mim... ; No início da minha vida profissional, senti-me atraído em tratar  crianças, me entusiasmei com a oncologia infantil. Tinha, e tenho  ainda hoje, um carinho muito grande por crianças. Elas nos enternece e nos surpreendem como suas maneiras simples e diretas de ver o mundo,; sem meias verdades; Nós médicos somos treinados para nos sentirmos "deuses". Só que não o > somos! Não acho o sentimento de onipotência de todo ruim, se bem > dosado. É este sentimento que nos impulsiona, que nos ajuda a vencer > desafios, a se rebelar contra a morte e a tentar ir sempre mais além. > Se mal dosado, porém, este sentimento será de arrogância e > prepotência, o que não é bom. Quando perdemos um paciente, voltamos à > planície, experimentamos o fracasso e os limites que a ciência nos > impõe e entendemos que não somos deuses. Somos forçados a reconhecer > nossos limites! > > Recordo-me com emoção do Hospital do Câncer de Pernambuco, onde dei > meus primeiros passos como profissional. Nesse hospital, comecei a > freqüentar a enfermaria infantil, e a me apaixonar pela oncopediatria. > Mas também comecei a vivenciar os dramas dos meus pacientes, > particularmente os das crianças, que via como vítimas inocentes desta > terrível doença que é o câncer. > > Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a me acovardar ao > ver o sofrimento destas crianças. Até o dia em que um anjo passou por > mim. > > Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada porém > por 2 longos anos de tratamentos os mais diversos, hospitais, exames, > manipulações, injeções, e todos os desconfortos trazidos pelos > programas de quimioterapias e radioterapia. > > Mas nunca vi meu anjo fraquejar. Já a vi chorar sim, muitas vezes, mas > não via fraqueza em seu choro. Via medo em seus olhinhos algumas > vezes, e isto é humano! Mas via confiança e determinação. Ela > entregava o bracinho à enfermeira, e com uma lágrima nos olhos dizia: > faça tia, é preciso para eu ficar boa. > > Um dia, cheguei ao hospital de manhã cedinho e encontrei meu anjo > sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. E comecei a ouvir uma resposta > que ainda hoje não consigo contar sem vivenciar profunda emoção. > > Meu anjo respondeu: > - Tio, disse-me ela, às vezes minha mãe sai do quarto para chorar > escondido nos corredores. Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com > muita saudade de mim. Mas eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não > nasci para esta vida! > Pensando no que a morte representava para crianças, que assistem seus > heróis morrerem e ressuscitarem nos seriados e filmes, indaguei: > - E o que morte representa para você, minha querida? > - Olha tio, quando agente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do > nosso pai e no outro dia acordamos no nosso quarto, em nossa própria > cama não é? > (Lembrei minhas filhas, na época crianças de 6 e 2 anos, costumavam > dormir no meu quarto e após dormirem eu procedia exatamente assim.) > - É isso mesmo, e então? > - Vou explicar o que acontece, continuou ela: Quando nós dormimos, > nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto, para nossa > cama, não é? > - É isso mesmo querida, você é muito esperta! > - Olha tio, eu não nasci para esta vida! Um dia eu vou dormir e o meu > Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira! > > Fiquei "entupigaitado". Boquiaberto, não sabia o que dizer. Chocado > com o pensamento deste anjinho, com a maturidade que o sofrimento > acelerou, com a visão e grande espiritualidade desta criança, fiquei > parado, sem ação. > - E minha mãe vai ficar com muitas saudades minha, emendou ela. > Emocionado, travado na garganta, contendo uma lágrima e um soluço, > perguntei ao meu anjo: - E o que saudade significa para você, minha > querida? > - Não sabe não tio? Saudade é o amor que fica! > > Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um dar uma definição > melhor, mais direta e mais simples para a palavra saudade: é o amor > que fica! > > Um anjo passou por mim... > > Foi enviado para me dizer que existe muito mais entre o céu e a terra, > do que nos permitimos enxergar. Que geralmente, absolutilizamos tudo > que é relativo (carros novos, casas, roupas de grife, jóias) enquanto > relativizamos a única coisa absoluta que temos, nossa transcendência. > > Meu anjinho já se foi, há longos anos. Mas me deixou uma grande lição, > vindo de alguém que jamais pensei, por ser criança e portadora de > grave doença, e a quem nunca mais esqueci. Deixou uma lição que ajudou > a melhorar a minha vida, a tentar ser mais humano e carinhoso com meus > doentes, a repensar meus valores. > > Hoje, quando a noite chega e o céu está limpo, vejo uma linda estrela > a quem chamo "meu anjo, que brilha e resplandece no céu. Imagino ser > ela, fulgurante em sua nova e eterna casa. > > Obrigado anjinho, pela vida bonita que teve, pelas lições que > ensinastes, pela ajuda que me destes. > > Que bom que existe saudades! O amor que ficou é eterno. > > Rogério Brandão > Médico oncologista clinico > RC Recife Boa Vista D4500 > Cremepe 5758"

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